Nada justifica tirar a vida de si mesmo, muito menos tirar a vida do próximo.
O episódio do atirador da faculdade de Vírgina já tinha me deixado perplexa, mas agora, estou mais perplexa ainda....Nenhum distúrbio mental dá o direito da pessoa de tirar a vida dos outros, ainda mais de 33 pessoas e com um caráter de crueldade tão grande: as portas das salas foram trancadas com correntes, para que ninguém pudesse escapar. E ainda com um exibicionismo que deixa dúvidas quanto as tendências suícidas que indicaram em seu exame mental, nenhum suícida mata duas pessoas e envia o material para televisão para mostrar sua tremenda façanha....
Eis um texto do New York Times que mostra o terror dos alunos:
Em uma sala de aula, uma cena de terror e heroísmo
Raymond HernandezEm Blacksburg"Ele não disse uma palavra, o tempo todo. Nunca vi um rosto tão impassível."Foi assim que Trey Perkins, aluno da Virginia Tech, lembrou-se do atirador que invadiu sua aula de alemão, na segunda-feira (16/4), apontou um revólver para cada aluno e puxou o gatilho.No final, Perkins, que se ajoelhou atrás das carteiras no fundo da sala, conseguiu escapar ileso. Mas foi um de poucos. Aparentemente, o atirador, um sul-coreano de 23 anos identificado como Cho Seung-Hui, extraiu seu maior número de vítimas -até duas dúzias de pessoas- desta sala de aula no segundo andar do Norris Hall.Foi uma cena de total terror e pânico dentro da sala 207, com alunos tentando escapar pelas janelas ou se escondendo atrás das carteiras, enquanto o atirador, vestimdo jaqueta de couro preta e um boné de beisebol marrom, atirou, recarregou e atirou novamente.Em certa altura, o atirador saiu inexplicavelmente, mas voltou. Os alunos se comprimiram contra a porta para impedir sua entrada. "O cara tentou voltar, mas conseguimos segurar ele fora", disse Perkins.A classe de cerca de 20 alunos estava reunida por cerca de uma hora, enquanto o professor Jamie Bishop dava uma aula básica de alemão, segundo as testemunhas.Nesta altura, não havia nada fora do comum, exceto quando alguém abriu a porta e começou a olhar para dentro. Todos imaginaram ser um aluno perdido procurando sua aula.No entanto, 10 minutos depois, a porta se abriu, o atirador entrou e mirou diretamente em Bishop, professor popular de 35 anos conhecido por andar de bicicleta pelo campus.Cho então rapidamente voltou-se para os alunos aterrorizados - que se jogaram no chão e empurraram as mesas para se proteger, a começar pelos que estavam nas primeiras fileiras da sala, disseram as testemunhas."Tentamos deitar no chão", disse Perkins, aluno de engenharia mecânica de Yorktown, Virgínia, de 20 anos. "Houve alguns gritos, mas na maior parte foi assustadoramente silencioso, além dos tiros."Derek O'Dell, aluno de biologia de 20 anos que estava presente, disse ao The Roanoke Times: "Ele recarregava muito rapidamente, parecia treinado. Ninguém se mexia."Então, por razões que ainda não estão claras, Cho subitamente parou de atirar e deixou a sala, enquanto os alunos sangravam deitados.Perkins disse que, na hora, ele teve medo que Cho ainda estivesse por perto e voltasse, se achasse que alguém na sala continuava vivo. "Disse às pessoas que ainda estavam de pé e conscientes: 'Fiquem em silêncio; não queremos que ele pense que há pessoas aqui, porque ele vai voltar'", disse ele.Então, ouvindo tiros pelo corredor, O'Dell, que tinha levado um tiro no braço, e outro aluno fecharam a porta da sala e se jogaram contra ela para impedir que o assassino voltasse.Poucos minutos depois, o atirador tentou forçar a entrada na sala novamente, onde Perkins estava usando sua jaqueta e casaco de malha para estancar os sangramentos dos feridos. Cho conseguiu abrir um pouco a porta, mas os alunos conseguiram pressionar com força suficiente para impedi-lo de entrar."Ele abriu a porta alguns centímetros, e depois conseguimos fechar novamente", lembra-se O'Dell, que teve que amarrar um cinto em torno do braço para deter a hemorragia.Perkins disse que ficou chocado como O'Dell conseguiu impedir a entrada do atirador, mesmo ferido. "Foi impressionante para mim que ele ainda estivesse de pé e encostado na porta", disse ele. "Derek pôde impedi-lo de entrar, enquanto eu estava ajudando os outros."Em uma entrevista em sua casa em Roanoke, o pai de O'Dell, Roger, disse que seu filho inicialmente não entendera que tinha sido ferido, até que percebeu o sangue pingando do braço. Ele disse que estava agradecido por seu filho não ter sofrido ferimentos mais graves.O assassino, entretanto, estava determinado e atirou repetidamente contra a porta. "Ele tentou atirar pela porta algumas vezes, talvez umas seis", disse Perkins. "Não tenho certeza se passaram ou não. Quero dizer, havia buracos do outro lado, marcas."No entanto, aparentemente, ao menos dois alunos foram feridos quando o atirador voltou e atirou contra a porta. Um foi Kevin Sterne, do quinto ano da faculdade. Uma artéria se rompeu quando foi atingido duas vezes na coxa direita, de acordo com médicos e sua mãe. Sterne, escoteiro, teve o bom senso de pegar um fio elétrico e fazer um torniquete para estancar a hemorragia até a chegada da ajuda, disseram.O outro foi Katelyn Carney, de Sterling, Virginia, que estuda negócios internacionais e foi atingida na mão esquerda enquanto ajudava a segurar a porta e Cho tentou forçar a entrada atirando contra a maçaneta. "Para mim, ela é minha heroína", disse seu namorado, Paul Geiger a caminho do hospital na noite de terça-feira.Eventualmente, Cho foi embora. Mais tarde, foi encontrado morto com um tiro na cabeça, disparado por ele mesmo, em outra sala no mesmo prédio, junto dos corpos de algumas outras de suas vítimas.Olhando para trás, Perkins disse que ficou marcado com a atitude metódica de Cho. "Ele foi simplesmente asqueroso; não tinha expressão facial, não mostrava sinais de emoção ou qualquer coisa", disse ele. "Não entendo como alguém pode fazer isso e não ter", disse ele, fazendo uma pausa para encontrar a palavra certa. "Mas acho que tem que haver algo terrivelmente errado com a pessoa para fazer uma coisa dessas."