O que é novo na lingüística? Porque temos tanto medo de trabalhar com algo que nos é tão comum quanto a língua? Porque todos preferem a literatura, que é o resultado de um trabalho com a língua ,do que a própria língua?
Estas questões me perseguem desde que comecei a faculdade e ainda não consegui respostas para nenhuma delas.
Ontem assistindo aula com o primeiro ano de Letras e vendo aquelas caras de terror misturado com um pouco de curiosidade me lembrei de quais eram as minhas esperanças quando comecei a fazer faculdade e onde consegui chegar...caminhos definitivamente opostos.
Sempre gostei de literatura, ainda gosto, na verdade meu objetivo principal quando entrei no curso superior era cursar literatura e inglês, no entanto foi completamente desviado: acabei entrando numa pós em Lingüística e me especializando em italiano.
Quanto a mudança do inglês para o italiano, não me arrependo nem um pouco. O italiano foi paixão à primeira vista. Continuo fazendo e usando o inglês, acho que línguas estrangeiras são sempre bem-vindas.
Com relação a literatura, esta foi uma descoberta mais árdua....Descobri que gostar de ler não necessariamente nos leva a querer analisar obras literárias. Foi desilusão a primeira vista, pois não tínhamos espaço para expor nossas próprias idéias, apenas repetir aquilo que os professores falavam ou que algum crítico famoso tinha exposto em algum livro. Isso entope nossas vias pensantes e teve uma consequência maior que eu esperava.
Se refletiu na lingüística....Aprendi a gostar de lingüística, porém aquele terrorismo que os professores de literatura faziam com os alunos deixou seqüelas também na análise da língua. Todos os lingüístas falam que a língua é um objeto lindo, fácil de ser analisado, porém quando é a vez dos alunos analisarem isso não acontece. Não há discussão de idéias novas, apenas um repeteco do que Saussure disse ou que Chomsky disse e assim vai...
Nem os próprios lingüístas assumem de onde foram buscar inspiração para aquilo que eles escrevem. Os grandes nomes desta ciência foram gênios que tiveram revelações sobre a língua e apagaram tudo o que foi dito antes por filósofos e outros lingüístas.
Estas "revelações" amedrotam os alunos. Pobres mortais que nem ao menos tem segurança de trabalhar com aquilo que usam diariamente. Adoro lingüística e assumo que estes medos que os alunos carregam consigo, eu também possuo.
Espero sinceramente que isto acabe. Meu medo de trabalhar com a língua e o medo de outros alunos...que os deuses da literatura e da lingüística se tornem mortais como nós.